quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Suspiro

Nada mais volta a ser
que o menos de não querer
e nas asas do infinito
onde o pranto e a razão
se alimentam num só grito
resplandecem os seres controversos
na sede da chama em poder
que nada os resvalece

verdadeira mentira sentida
lida nos olhos e nas mãos
da forma humana esquecida
gentil dor omitida
que mais não é 
que Paixão






























quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Um muro

Era uma vez um muro
um muro tão alto quanto a tua posse
em cima do muro
um conto de contas e o espião da noite
surgiu o murmurar no sal fino
que ela traz nos poros
a concórdia audaz brilhando no ombro nu
onde deste o primeiro beijo

por detrás do muro
as bocas unem-se a despeito
o vinho é extenso como o rio da alma
somos despojados  de limites
e lá as almas têm luz.


era uma vez um muro
que alteava os nossos egos
ficavamos dissimulados
esborratando com as mãos
essas linhas que nos contornam
onde dormiamos nos brandos suspiros
onde lá vigiavamos o horizonte
que em busca, subsiste.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Esta valsa

'Ouve estes aplausos
De públicos imunes à tua presença
São descritos com graça
Quando te voltas a ouvi-los

Danças indelével ao som de nós
És capaz do mundo
(Sem querer o grito surdo)

Repara como esta valsa nos assusta
Como é possível tremer
o corpo incólume no sossego

Não cabe a ti, se a vida não se dá neste momento
Segue na direcção de ser
E que depois digas adeus
Às marcas que fazem doer'

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Sem Combatente

sinto tudo isto,
como arma sem combatente.
um indigente
pelo pulso marcado.
sinto,
muito por não saber
como se fala dos que sentem.
agarro-me
do imenso horizonte.
sei que lá tenho caminho
não porque veja telas
em finais felizes pinceladas
mas porque meu rosto
foi lá timbrado num tempo
em que não era nosso.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Sexto sem sentido

estas ruas
atravessam sonhos
os dias são vidas
e as noites têm donos
Rumo norte, sul
Sigo ausente
Vivo Chakra
Cálice dourado
por detrás do pensamento
um momento a seguir ao outro
adivinho no teu rosto
sem ler nos traços fortes
que o universo cega
quem ama
como se amar
tornasse a doença um vício
aos olhos do coração
não deverei partir
sem pelo menos
dizer-te isto
e tudo mais
que no pensamento escondo
o quanto não sinto
por devagar fechar os olhos
o quanto não irei ver
se o meu coração
deixar de bater

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Ballet Turvo

curva,levitação,passo
um falso trautear de pés sem destino
um caminho dançado na cegueira

o voo
esse é prolongado
demora-se na pele de quem não queima
porque queimar demais seria clássico

esconde o rosto agora
não de vergonha
mas porque o breu das emoções
atinge-te nessa esfera cheia de sono

o nono grito no fim súbito da clareza humana.
estou despojada de cores
o mundo dançou à sós
atravessei os dias e fui saudar manhãs.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Traços

Hoje sou timbre ausente
Tenho um leve pena pesada
Sou desmantelada por partes vencidas
Memórias que não isento
Um breve conversa que nunca existiu
Sou encalço do meu próprio caminho
Cálculo mal calculado
Em vez de espada, sou espinho
Em vez de herói,sou fardo
Sou montanha nunca seguida
Um mundo em vez do outro
Sou o silêncio aturdido de passagens
Sou aquela viagem que não tem retorno

Tenho nos dedos o medo
E o medo tem derrotas
Sou embriaguez da minha vida
Sou o defeito para além do feitio

Às vezes custa aceitar-me
Mas depois amanhece
E eu recupero-me na falta

Depois para lá de nada existir
Para lá do que não consentimos
Há um cheiro a liberdade

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Se o meu peito não falasse

Hoje entardeceu de repente
Não me senti regular nos meus compassos de espera
Fiz confissões ao sabor do vento
Olhei o sol de frente, tentei honrar minhas promessas
Senti-me tonta...

Arrrr... se ao menos conheci a tarde, porque não me deste a manhã?

O valor que te tenho
O sal que me provocas!

Um dia vou fazer com que o sol nasça da terra
Um dia vou plantar jardins no teu corpo
...temperar-te

Um dia deixas de ser mudo,
passarás a ser maré

um dia esse dia serás
e o meu peito falará sem medo

terça-feira, 25 de maio de 2010

Subtileza

Quanto não basta um pedaço de terra teu, quando no ar já voaste?...

sábado, 15 de maio de 2010

Desvio

Quando não me apetece
Eu solto um grito
Vou em contramão
Rumo contra essas marés submersas
Que meia volta me afogam
Sem pelo menos um abraço

Quando não me apetece
Eu sou o contrário do que não quero
Oponho-me em voz alta
Digo: BASTA!
Ponho mochila nas costas
E viajo para poder sentir falta

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Viagem


Vou de volta de mim


Vou por vezes e levo-me pela mão


Vou sem pensar quando volto

Ou se quero fazê-lo


Ir é que é pura e simplesmente...Inquestionável
(Concerto de Black Coffee and The Soul Business Band @ Breyner 85)

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Eu quis

Eu quis me dar ao teu dia,
Um dia comum,
Uma era com trago aveludado.

Quis colher com estas mãos.

As estrelas
deixaram-me a sós com a minha confissão.

Degolei os meus maiores receios,
Esgotei-lhes a força
Derrotei este rasgo impetuoso de
sombra-solidão.

Nas minhas mãos caíam lágrimas,
eram vidas,
paisagens distantes,
viagens nunca feitas,
histórias por contar...
Segredos nossos.
A nossa janela. O mundo.
Eu e tu.

Eu quis me dar ao teu dia,
Ser uma pequena parte
do que te pertence
Abrir a porta de quando em vez,
Ser gentil, saudar-te.

Quis humanamente não ser tua,
mas fazer-te arte,
apoderar-me do fim,
fazer de ti, um recomeço.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

*

Quando encosto assolada, os ombros nos ponteiros, verdade é que tacitamente me desfiam o destino, não sei bem porquê, mas prefiro recordar futuros que se vão avançando num acordo mútuo com o tempo e esqueço este tic-tac de impotência gerada ao segundo.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Noção nº1

Deixa-me dizer o que não posso
Colher frases que não devo
Reconhecer os meus erros
Ser subtil ao insulto
Deixa-me de propósito
Por interesse
Magoar os muros que são altos
Ser inteira neste dia
E devagar dormir de repente
Deixa que te conte, desabafando
Que me incomodo
Com o silêncio
Discuto nas tertulias de poesia
E não respeito
Porque sou diferente
Deixa-me se calhar
Porque deliberadamente sou gente
Humana por acaso
E mulher intencional

Deixa-me de parte
Nesta parte do momento
Urge que os meus sentidos
Se sintam no espaço que se segue.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Tudo isto faz sentido

hoje não há chão
há pegadas, caminhos sem volta
há cansaço sem o silente motivo de voltar
hoje é verdade amanhã não
vinculos de concórdia se mutilam

em cravos de uma outrora em que persistimos
hoje somos uma mentira subdividida

uma inconclusiva mistura que evidencia terramotos
ou sem ser, somos parte que locomove

vastos são aqueles que sabem o ponto certo do nosso caminhar
e a rosa dos ventos que nos confunde

hoje somos rácios de cansaços
uma crença incolor deveras salivada
uma trémula exactidão de musgos da alma

ingenuidade de quem acredita
que as altas muralhas de fogo
nos ressuscitam do lodo firme em que nos tornamos

esta maré ovalizada de mentiras inconsoláveis
uma maré triste, na alba turva do meu regaço

hoje não quero querer
tu tens que querer, eu não
hoje só cansaço uma vez mais
de infinda tentativa, como que eterna
de sentir o vento à volta das nossas cinturas

e um encosto fácil, curvilíneo nos denunciasse...

as calhas da nossa paixão formam engonho
nestes sentimentos desleais
e este cheiro urbano cheio de turbinas e motores
e cheios de nós em ruelas,
becos sem saida
janelas pares e vidros que estalam cedo a crassa madrugada!...

depois de tudo, sobe entre estes céus,
que nos abrigam do sangue das chuvas crepusculares
e os meteoritos falham miras de um peito até ao outro

hoje tudo isto faz sentido
eu faço sentido e tu não...

cálculo que compreendes as minhas visceras

uma fraqueza que o tempo fez prosperar
sei por defeito de inverdades
que me torno frágil
nestas horas vadias em que solo sou, desterro do nada

hoje tudo avança para um passado que me barra
com forças cáusticas marcos volateis de uma sombra de mim

não cabe na mão este sentimento...

eles entendem-nos no erro peninsular
confinam-nos dentro de caixas sobrepostas
mostram quem manda neste reino de ninguém

este hoje custa-me a acreditar que o é
entre tanta coisa
mais um dia que cresci
com os dedos sobrepostos quase que inverto o destino
e estes meteoritos de calhas e de hoje e de nós...

hoje finalmente acabo um suposto começo
insalubre e doentio
não consta atestar que assim é
apenas redondo, vai finando...

quarta-feira, 24 de março de 2010

Estilhaços

Seguiu o silêncio, num murmúrio de lágrimas
Sentiu no rosto o afecto cego pela doutrina
De certa forma não vira que no seu estado
O mais fácil seria voltar para o seu mundo...

Ninguém o tinha avisado que subir... seria descer mais baixo...

segunda-feira, 15 de março de 2010

Contar sem querer

Davam dias aos meus dias e eu considerava-me louca
Não só destemida como feroz
Segui o virus que consternou o sigílio fácil que tudo amarra em si

De repente virei de costas para uma história diferente e andei ao contrário
Agora sim, o rumo certo.

segunda-feira, 1 de março de 2010


Começo onde tudo termina

Onde a manhã se esconde

E as aves falam em segredo

Começo de repente com o pulsar do sangue

E vou e esvaio e sou inteira


Vou no colo da mãe-coragem

E guerreira do meu ser


De volta do meu mundo, o meu corpo

Ergo o punho que me sustenta as marcas

Ergo-me com ele

Sinto-me finalmente de volta à história que comecei a escrever.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Cegueira


Calculo e conto-te impar

Irregular, assimétrico

Desbotado, sujo até...


Falham as miras contra nós e os nossos peitos não colidem...


Eu falho-te, desencontro-te

Não te deixo que me vejas


Ou tu não me vês

Porque eu estou sempre perto...

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Em jeito de desabafo...

Cumplicidade
Um mal menor
Esta cegueira à memória um do outro
A densa corda de luz
De engate em engate

Neste poema a preto e branco
As cores desta violência mundana
Já não corroem...

Que te acompanhe o rosto ausente
O lume precioso
O sal das bocas que nos esconde...

Continuaremos nómadas um no outro
O lugar que se aquietou
Nesta minha mobilidade ferrugenta...

Sinto que te perco aos poucos quando estás comigo...

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Um Passo de Poeta


Um passo

Lateral ao ponteiro que avista o sossego

Um segundo

Em contas que contam vidas que te escaparam

O encosto viril, a mão firme

De quem determina se a vida te vale

Ou te quer, Indevida


Seguro a ti mesmo, o mesmo estandarte

Aquele que sem vitórias, faz-te subir montanhas


E és um herói em terras áridas, sulco seco...


É hora de dormir de repente, sem querer

É o momento certo para adormecer do outro lado

Onde te abraçam em segredo

E mostram a ode triunfal de um poeta de ninguém


Sonha agora!...O Tempo urge!